Combater o idadismo no mundo do trabalho

O futuro da economia portuguesa não pode ser apenas construido com os jovens

Apesar de todas as proclamações teóricas em contrário, nos países ocidentais de um modo geral e em Portugal de forma particular, a idade tende a ser um problema crescente em muitos domínios e segmentos da sociedade.

Os preconceitos relativamente aos mais velhos são especialmente visíveis no mundo do trabalho, onde subsiste uma enorme resistência à contratação de pessoas com mais de conquenta anos de idade.

Basicamente, muitos empresários, gestores ou directores de recursos humanos tendem a considerar que a eventual contratação de um trabalhador mais sénior não será susceptível de garantir uma perspectiva de colaboração e de compromisso de longo prazo. Alegadamente, a acreditar nessa tese, o investimento em tal trabalhador não seria rentável em termos económicos.

É óbvio que se trata aqui de um raciocínio razoavelmente preconceituoso, o que por si só deveria convocar-nos a combatê-lo com absoluta firmeza. O esforço nesse sentido será necessariamente grande, até porque o idadismo, ao contrário do que sucede com referência a preconceitos em razão de sexo, de etnia, de religião ou de orientação sexual, não suscita na sociedade portuguesa qualquer espécie de indignação.

Verifica-se, aliás, pelo contrário, que muitos dos chamados activistas que dizem lutar pelo fim das discriminações sociais, convivem muito tranquilamente com as barreiras e restrições à integração dos mais velhos nas mais diversas vertentes da vida em sociedade.

Não obstante, nesta oportunidade, mais do que uma abordagem ética ao tema, gostaria de tentar desmentir a justeza da opção de não contratar seniores, com base apenas em critérios de racionalidade empresarial.

A vertigem é provavelmente a mais ilustrativa característica da vida ocidental nesta terceira década do século vinte e um, promovida fundamentalmente pelo espírito inquieto e mesmo irrequieto das novas gerações.

Os jovens que têm vindo a entrar no mercado de trabalho em Portugal ao longo dos últimos vinte anos fazem parte inequivocamente das gerações mais qualificadas e preparadas de sempre, sendo capazes de acrescentar muito valor às organizações empresariais que integram.

Não obstante, como temos igualmente vindo a constatar, provavelmente em consequência da tal inquietude a que acima faço menção, quanto mais preparados são, menos tempo se mantêm na mesma função ou até na mesma empresa. Com toda a legitimidade, obviamente, estão sempre à procura de um novo desafio, de um projecto mais estimulante ou de uma realização mais ambiciosa.

A experiência está assim a evidenciar de forma cristalina e linear que o argumento usado no sentido de que os mais velhos não poderão garantir um compromisso alargado em termos temporais, começa a ser esvaziado.

Realmente, na prática, se uma empresa contratar um jovem de vinte e cinco anos para uma função relevante na sua estrutura, o mais provável é que consiga mantê-lo nos respectivos quadros durante dois ou três anos. Com algum optimismo, pode ser que o estimule a ficar durante cinco anos. Já se a mesma empresa admitir um trabalhador com cinquenta e cinco anos de idade para a função em causa, é bastante previsível que venha a conseguir retê-lo durante aproximadamente dez anos.

O mundo mudou substancialmente nas duas últimas décadas. Em particular, durante esse mesmo período de tempo, as premissas e os paradigmas do mundo do trabalho alteraram-se radicalmente.

Nesse sentido, actualmente, não faz grande sentido preterir os mais velhos com base naquele argumento de que, nesse caso, haverá um tempo potencial menor de retenção. Aliás, estou convicto que a tendência será cada vez mais a contrária: a fidelização será muito mais difícil relativamente aos trabalhadores mais novos.

Estou absolutamente certo de que os gestores e empresários portugueses estão crescentemente sintonizados com esta evolução. Mas ainda assim faço questão de tentar contribuir para estimular a reflexão. Devemos fazer um esforço grande no sentido de se acelerar a alteração destes paradigmas preconceituosos e, afinal, também ineficientes.

A tudo o que antecede acresce a evolução demográfica fortemente depressiva que o nosso país tem enfrentado. O aumento da proporção dos mais velhos no universo da força de trabalho será irreversível. Pelo que o recurso aos mesmos será cada vez mais indispensável.

O futuro da economia portuguesa não pode ser construído apenas com os jovens. Mais do que nunca é incontornável que contemos também para esse desafio com aqueles que são mais velhos. Alterando mentalidades nas empresas e na sociedade e ao mesmo tempo incrementando políticas públicas adequadas.

É absolutamente vital que ousemos combater o idadismo no mundo do trabalho. Porque é inaceitável do ponto de vista ético, é certo. Mas também porque é profundamente errado do ponto de vista económico.

Membro da Comissão Executiva da CIP e Vice-Presidente Executivo da AIMMAP