Os hotéis temáticos são cada vez mais uma opção procurada por quem quer viver uma experiência diferente de alojamento. Adrian Bridge, CEO do The Yeatman, juntou o luxo ao vinho e criou um hotel em Vila Nova de Gaia, em que todos os 129 quartos têm vista privilegiada para a cidade do Porto e onde o vinho é a imagem de marca.
Cada quarto é “apadrinhado” por produtores ou casas de vinhos nacionais, que fazem a sua própria curadoria na decoração. O preço médio por noite ronda os 450€ e há uma taxa de ocupação de cerca de 80%.
No sétimo piso fica o famoso spa vínico, uma aposta na saúde e no bem-estar, que Adrian Bridge considera ser imprescindível em qualquer hotel no futuro.
Como é que surgiu a ideia de criar o The Yeatman?
Adrian Bridge – Em 2006, a Câmara de Gaia estava a planear a requalificação da zona histórica do vinho do Porto. Tinhamos um terreno lá e optámos por construir o hotel.
Quis que o hotel fosse feito com o tema do vinho porque muita gente vem visitar a cidade interessada no vinho do Porto. Desenhámos o hotel com todos os seus quartos com vista para a cidade do Porto, mas também sempre com muitos jardins e muitos espaços verdes. A ideia era que 50% dos nossos 32 mil metros quadrados fossem jardins. Abrimos em julho de 2010 e foi um sucesso.
Lançámos o projeto e a nossa publicidade era o tema “destino”, porque a lógica é que a cidade do Porto é um destino que tem riqueza arquitetónica, riqueza histórica, tem notoriedade pela comida e, obviamente, com bebidas, como o vinho do Porto. Temos esta riqueza, mas não tínhamos um hotel que fizesse justiça à história da cidade.
Nunca olhou para Portugal e, neste caso, para a cidade do Porto como um investimento arriscado, na altura?
AB – Em setembro de 2008 deu-se a crise do Lehman Brothers e muitos projetos foram cancelado. Eu decidi que íamos avançar com o projeto e muita gente dizia “o Adrian está completamente maluco”, porque, obviamente, o nosso projeto é um projeto de luxo a acontecer no meio de uma crise financeira.
Abrimos em julho de 2010 e depois, em 2011, acontece a crise financeira em Portugal. Ainda assim, acreditei na qualidade do nosso produto. Fizemos uma atividade de relações públicas em muitos países do mundo e conseguimos muita publicidade com o facto de o projeto ter ganho bons prémios. Em 2012, aparecemos numa página no New York Times como um destino do Porto.
Recentemente, ganhámos o Grand Award da revista Wine Spectator pela nossa carta de vinhos e o nosso restaurante com estrela Michelin, o Gastronómico, que tem como chef o aveirense Ricardo Costa. Só há 96 restaurantes no mundo que têm um Grand Award, o que é uma honra para nós. É um prémio especial.
Como é que está, neste momento, o The Yeatman em termos de volume de negócios?
AB – Está bem. O ano passado foi bom e foi a recuperação completa do mercado depois da pandemia. Acho que 2024 vai ser melhor do que 2023. Temos essa expectativa.
O The Yeatman é um hotel vínico e os quartos são fruto da colaboração com produtores e casas de vinho. A personalização d a experiência do cliente e os hotéis temáticos são também uma tendência de futuro na hotelaria?
AB – Há um tipo de consumidor que gosta de um produto que já conhecem bem. Esse é o negócio das grandes marcas, como o Sheraton.
Depois acho que há outro tipo de cliente, mais de luxo, que quer personalização, não só do ponto de vista da unidade da hotelaria, da sua decoração e oferta, mas também uma personalização do cuidado, das suas necessidades e da sua família.
A aposta no bem-estar também é cada vez mais uma tendência do futuro no setor hoteleiro. Em que é que o circuito de spa do Yeatman se distingue?
AB – O nosso spa está ligado à vinoterapia, que é um tema que tem a ver com a oferta do nosso hotel. Acreditamos que um bom spa, também precisa de espaço. O nosso spa tem 2 mil metros quadrados, 10 salas de tratamento, piscina interior, ginásio, entre outras ofertas.
Em relação à gestão do próprio hotel, quais foram os maiores desafios que enfrentou até agora?
AB – A mão-de-obra é um problema em muitos mercados mundialmente. Tentamos contornar isso oferecendo bons salários e formação de equipas. O atendimento é muito importante. O que conta é a qualidade da experiência dos clientes e todos os clientes são diferentes. O que conta são os detalhes.
Quais são as principais tendências que identifica nos próximos anos?
AB – Acredito que o limited service (hotéis budget-friendly) vai continuar em crescimento, porque há iniciativas possíveis na área da Inteligência Artificial, utilizando robots para fazer o check-in, entre outras coisas.
Acredito que a autenticidade e a sustentabilidade são tendências muito importantes neste setor.
Portugal vai continuar a receber mais gente, não só dos EUA, mas da América do Sul, da Ásia e vários mercados. O produto português é muito positivo e é um destino com qualidade. A capacidade linguística das nossas equipas e da população em geral de Portugal é ótima.
Mas em Portugal o número de hotéis com grandes marcas ainda é relativamente pequeno em comparação com Espanha, por exemplo. Temos de acreditar que vamos conseguir mais investimento de grandes empresas e empresas de luxo.
TENDÊNCIAS DE FUTURO
Sustentabilidade
“Quando construímos o The Yateman, cerca de 10% do nosso investimento foi orientado para o cuidado com o ambiente. Por exemplo, recolhemos águas pluviais e águas que vêm das casas de banho para uma sala de tratamentos e depois usamos essa água para regar os jadrins e também para as sanitas. O aquecimento da água do nosso hotel é feito com panéis solares em cima do telhado. No jardim do hotel plantamos muitas espécies que estão em risco, na lista vermelha em Portugal.
Hoje em dia encontramos mais hotéis que têm este diferencial, mas o nosso grupo foi propulsor desta área ambiental desde o fim dos anos 90”
Personalização
“Acredito que no futuro haverá mais personalização na área de luxo. Os quartos normais no The Yeatman têm 45 metros quadrados e um terraço privado de 2 metros quadrados. Acredito que o novo luxo é o espaço. As pessoas querem espaço, porque cada vez mais moram em cidades com apartamentos relativamente pequenos e, quando estão de férias, querem espaço e o espaço é um luxo.
Também acho que uma boa oferta de comida e bebida é importante. O nosso projeto de apresentar os melhores vinhos do Portugal é algo que os nossos clientes apreciam. Esta é também uma tendência de futuro”