As dúvidas do senhor Doutor

As farmácias podem ser a porta de entrada para o SNS?

Escrevi nesta coluna, em janeiro, que “ao cidadão comum, pouco interessa a guerrilha de interesses político-partidários ou corporativos. As pessoas querem — e exigem, até porque pagam muitos impostos — que o Estado garanta um serviço de saúde que resolve as necessidades básicas de quem está doente e isso passa por uma melhor articulação entre Estado (ULS, hospitais e centros de saúde públicos, administrações regionais) e hospitais privados ou do setor social.” Seis meses depois, com mais diagnósticos, intenções e reformas anunciadas, não parece que possa mudar uma vírgula.

O debate desta edição centra-se numa hipótese para aliviar a pressão sobre os cuidados de saúde primários e as urgências hospitalares: aprofundar a integração das farmácias no SNS. Esta é uma bandeira de Ema Paulino, presidente da Associação Nacional de Farmácias, que também integra a direção da CIP. Luís Cunha Miranda, presidente do Colégio de Reumatologia da Ordem dos Médicos, acredita que esta medida irá esbater a linha que separa médicos e farmacêuticos e avança antes que a simplificação dos processos (i.e. a papelada) é a solução.

Talvez mais do que outras, a discussão sobre o modelo de organização do SNS, em si complexa, é toldada por vieses ideológicos e a defesa de privilégios corporativos. Mas é para debater estes temas estruturais com seriedade e com pessoas de pensamento livre, sem amarras dogmáticas e ideológicas, que avançamos este projeto. Pode acompanhar a leitura do debate com o vídeo, disponível no site amanha.sapo.pt e no canal do Youtube em português da Euronews, ou o podcast.

Nesta edição, destaque também para o The Yeatman, em destaque na rubrica “Portugal à Prova”. Este projeto de Adrian Bridge junta o luxo e o vinho sobre uma vista privilegiada do Porto, na aposta de que a personalização e identidade será uma tendência no desenvolvimento da hotelaria nacional.

Começamos a rubrica “Nariz de Enólogo” e convidamos Filipa Pato para refletir sobre perspetivas para um setor tão importante — e agradável — para Portugal. Nesta altura em que muita gente tem mais tempo para estar à mesa, incluimos também as suas recomendações. Pode não ser estrutural, mas é estruturante.

Por fim, sugiro a crónica de Simão Santana sobre (a ausência de) uma estratégia para o desporto no país e a reflexão de Filipe Morais sobre o imperativo da profissionalização nas equipas de gestão das empresas portuguesas. Como sempre, pode ouvir a reflexão dos cronistas no podcast “Pensar Amanhã”.