A Inteligência Artificial (IA) será responsável por cerca de 85% do aumento da capacidade energética de data centers até 2026, revela um estudo da Schroders, uma multinacional de gestão de ativos.
A capacidade de energia crítica dos data centers a nível mundial, isto é, o necessário para garantir a operação dos servidores e da infraestrutura de armazenamento e rede – como sejam a refrigeração, iluminação e segurança -, irá aumentar de 49 para 96 mil megawatts em 2026, aponta o documento, com base numa estimativa da SemiAnalysis, uma empresa de investigação do setor.
A verificar-se, seria um aumento anual de 25%, resultante sobretudo da construção e expansão de data centers e por ganhos de eficiência energéticos. O desenvolvimento da IA é o principal fator que impulsiona esta necessidade. A criação de novos e melhores modelos requer capacidade de ‘alimentar’ e processar um crescente volume de dados e informação, mas contribui também para a disseminação desta tecnologia e a sua crescente implementação nos mais variados processos e operações
O saber ocupa lugar
Qualquer pessoa com alguns livros sabe que há um limíte para as estantes e prateleiras que se consegue ter em casa. O mesmo acontece com os instrumentos digitais. Para a armazenagem e processamento de dados, são necessárias infraestruturas que abriguem estes complexos sistemas de computação: os data centers.
Estes “repositórios” de informação congregam a infraestrutura de rede, que assegura a ligação do centro entre si e com o mundo, os servidores e dispositivos de armazenamento e a capacidade de computação. Como estão em funcionamente constante, precisam de um considerável consumo de energia.
O consumo de eletricidade de instalações desta natureza aumentou cerca de 14% por ano entre 2012 e 2023; a procura total de eletricidade cresceu 2,5% ao ano no período homólogo, indica a Schroders. A diferença foi particularmente incentivada pelo aumento do volume de recolha e análise de dados e “pela mudança para a computação em nuvem”, conforme o armazenamento de dados deixou de exigir o suporte físico nas instalações das empresas.
O elemento mais recente, os modelos de IA, podem utilizar entre seis vezes mais energia que os computadores comuns quando a sua capacidade preditiva está a ser treinada e duas a três vezes na fase seguinte, de “inferência”, quando começam a operar com base em dados novos, explica o estudo.
Na União Europeia, os data centers consomem entre 1.8 e 2.6% de toda a energia consumida no espaço comunitário, revelou um estudo divulgado em junho pela Comissão Europeia. Em comparação, as redes de telecomunicações consomem atualmente entre 1 a 1,2% da rede dos 27.
Ligados à corrente
Não é certo como conjugar a necessidade de aumentar a produção de energia para acomodar o espectável aumento do consumo com os compromissos de sustentabilidade. “Tornou-se evidente que os data centers atuais não podem ser diretamente alimentados apenas por energias renováveis”, avança o relatório.
A intermitência da produção de energia solar ou eólica tornam-nas pouco adequados para alimentar instalações que funcionam 24 horas por dia, mesmo com recurso a baterias. A melhor aposta seria na produção hidroelétrica ou na energia nuclear, avançam os autores. No entanto, reconhecem que estas apresentam desafios de outra natureza: as “limitações geográficas” da primeira e “a resistência do público” e longo prazo de construção para centrais nucleares. “Por enquanto, o gás natural é a opção mais viável para complementar as fontes renováveis” e alternativa aos combustíveis fosséis, defendem.
Em paralelo, os autores indicam que há outros desafios a jusante. A Alemanha, a Irlanda e os Países Baixos, onde se situam data centers que representam cerca de metade do consumo total de eletricidade destas instalações na UE, já impuseram restrições à sua construção. Os constrangimentos da cadeia de abastecimentos de microchips e transformadores limitam igualmente a possibilidade de expansão de data centers.
Mas é possível que a solução parta do problema. A integração de IA nos processos de racionalização e tomada de decisão será talvez o elemento que permite planear e reorganizar a rede elétrica de modo a tornar-se sustentável. “Talvez não seja de estranhar que a IA possa ajudar a resolver muitos dos desafios associados ao fornecimento da energia acrescida de que necessita”, conclui o estudo.
*Editado por Diana Gomes