BRP. Regresso do talento jovem adianta convergência em 14 anos

Regresso dos licenciados emigrados entre 2012 e 2021 iria acrescentar 0.61 p.p. ao crescimento do PIB e acelerar convergência com a UE, conclui análise apresentada em conferência da Associação Business Roundtable Portugal (BRP)

O regresso dos jovens qualificados que emigraram entre 2012 e 2021 faria Portugal convergir com a União Europeia 14 anos antes do estimado. As contas são de Pedro Brinca, economista e professor da Nova SBE, que apresentou “alguns cálculos de guardanapo” a pedido da Associação Business Roundtable Portugal (BRP).

Estes resultados foram divulgados na conferência “Portugal: o país onde vais querer estar”, que decorreu na tarde desta quarta-feira, no campus da Nova SBE, em Carcavelos. Com o mote de refletir sobre “o que podemos fazer para tornar o país atrativo”, o evento organizado pela BRP reuniu líderes empresariais, políticos, culturais e jovens. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, integrou um painel onde conversou com dois jovens, numa conferência que propunha imaginar “que país seríamos” se Portugal retivesse o talento nacional.

“É fazer a conta”

A realidade delineada por Pedro Brinca não é animadora: “no escalão de países de rendimentos semelhantes, Portugal fica muito abaixo na performance de crescimento”. Mesmo a recente revisão em alta pelo FMI “deixa-nos de últimos destacadamente para últimos por um bocadinho”. Assim sendo, a projeção de convergência do país com a União Europeia remete-a para 2060. A Polónia, estima, atingirá esse patamar em 2039.

Num diagnóstico do tecido empresarial do país, o economista avançou que as grandes empresas representam 22% do emprego em Portugal, mas com 40% do Valor Acrescentado Bruto (VAB), cerca de 83 mil euros/ano por empregado. Já nas microempresas este reduz-se a um quarto do valor: 22 mil euros/ano. “Num cenário destes, a emigração é a única solução para muitas pessoas”, confessa. “Talvez os meus netos já possam entrar no mercado de trabalho a esse nível”.

Mas se – admita-se, um “se” – Portugal conseguisse convencer os 194 mil licenciados que deixaram o país numa década a regressar em igual período, integrando-os nas grandes empresas? A perspetiva torna-se mais positiva. O retorno anual de 19 400 licenciados representaria um acrescento anual de 1.6 mil milhões de VAB à economia nacional, o equivalente a mais 0,61 pontos percentuais da taxa de crescimento do PIB. A convergência com os 27 seria alcançada em 2046

E “se” atingíssemos uma distribuição da dimensão das empresas comparável à União Europeia? O tecido empresarial português teria uma redução de 14 pontos percentuais no número de microempresas, e igual acrescento de grandes empresas. Seria transformador: o PIB nacional cresceria 16.4%, de 265 para 309 mil milhões.

Juntando “se” e “se”, o país chegaria ao PIB per capita médio da UE em 2033 – 27 anos mais rápido.

País real, país possível

Na abertura, Carlos Moreira da Silva, eleito no dia 7 de maio para suceder a Vasco de Mello na liderança da BRP, reiterou “uma verdadeira preocupação com o talento português e o compromisso com a construção de um Portugal melhor”.

O investidor e dono da BA Glass afirmou que o evento era simultaneamente “uma celebração do talento e do sucesso” e a sua mobilização para “um verdadeiro desígnio nacional”.

A preocupação do presidente da BRP não é com a saída do território nacional tout court. “É salutar e de encorajar” a saída para estudar, para trabalhar, para seguir oportunidades de desenvolvimento pessoal e enriquecimento cultural. “O problema não está na saída, mas na falta de motivação para regressar”, explicou.

Esta impõe sobre o país um “pesado custo-oportunidade”, ao “desperdiçarmos todo esse capital de conhecimento” e ainda “a garra e ambição dos mais novos”. Todos os esforços devem estar concentrados em realizar “o país que podíamos ser com mais dos nossos”.

“Temos de trocar as palavras pela ação e a teoria pela prática. Não podemos perder mais tempo”, declarou Carlos Moreira da Silva.