Tecnologia e Humanidade como motor da equidade

A Inteligência Artificial pode ser uma excelente oportunidade para a equidade.

O nosso presente está a ser impactado por mais uma revolução. Estamos a viver uma verdadeira mudança de paradigma do valor económico atribuído às nossas competências, valor este que tem sido alterado ao longo das décadas. No início, o nosso trabalho era valorizado com base nas competências físicas, na força muscular, quando a agricultura e a indústria pesada eram as atividades predominantes.

Com as revoluções industrial e tecnológica, esta força muscular perdeu importância para o pensamento, o raciocínio, as competências técnicas, algo que irá certamente perdurar no futuro. Vivemos, até ao presente, uma realidade em que estas competências técnicas têm sido recompensadas com salários mais elevados, muito motivados pelas empresas tecnológicas.

A era da Inteligência Artificial (IA), cuja massificação se está agora a iniciar, veio alterar, novamente, este paradigma, aumentando o peso das soft skills, do humanismo e das emoções.

Pela primeira vez na história da humanidade, as nossas competências técnicas estão em risco. Estas, até aqui altamente valorizadas, são as mais expostas. As soft skills e a componente humana, subvalorizadas ao longo dos séculos, estão, agora, a ganhar importância e a atuarem como fator distintivo e de competitividade. Nunca o fator humano foi tão importante, crítico e insubstituível.

Esta mudança de paradigma das competências que a economia mais valoriza é cada vez mais rápida. O nosso presente obriga-nos a pensar de forma diferente, a realçar a empatia, a comunicação e o espírito crítico. A colaboração, a inovação e a capacidade de adaptação são atualmente fatores críticos de competitividade, numa era onde a IA está a substituir as tarefas mais repetitivas e rotineiras do nosso quotidiano.

No passado, a prevalência das competências físicas e técnicas não incentivava a equidade. Por um lado, pela menor força física que as mulheres tinham, em média. Por outro lado, infelizmente, pela pouca atratividade dos STEM junto das camadas femininas mais jovens. Porém, nesta era de valorização de novas competências, mais humanas, que complementam as técnicas, há todas as condições para que a equidade esteja mais perto de ser assegurada.

Muitas empresas estão, já no presente, a aproveitar a Inteligência Artificial como ferramenta para promover a equidade a vários níveis ao nível do recrutamento e formação.

Nos processos de recrutamento, a IA está a ser usada para promover a diversidade, utilizando-a para por exemplo, identificar e resolver possíveis viés, muitas vezes inconscientes, no recrutamento, promoções, processos de remunerações e qualquer outro processo de tomada de decisão.

Consegue-se, assim, garantir que as ferramentas de IA são mais éticas e justas. A consciencialização destes preconceitos promove também uma maior equidade nos processos de recrutamento, permitindo uma igualdade de oportunidades aos candidatos.

As análises preditivas são outra ferramenta que pode contribuir para uma maior equidade, quando complementadas com o sentido crítico dos profissionais de Recursos Humanos e dos executivos que estão a recrutar.
Estas permitem antever, com maior precisão, o sucesso de um candidato a vários níveis como a sua possível integração na cultura empresarial, a sua perspetiva de performance futura, ou mesmo o seu potencial de crescimento.

Por outro lado, a IA pode, ainda, ajudar a anonimizar os perfis dos candidatos (nome, género, idade ou outro pormenor pessoal) focando-se noutros fatores como a experiência, as competências ou a educação, aumentando, assim, a imparcialidade do processo. Pode, de igual forma, facilitar uma maior standardização de entrevistas contribuindo para uma maior equidade e justiça entre candidatos.

A IA também contribui para uma remuneração mais justa ao facilitar a personalização de benefícios e incentivos com base na análise imparcial da performance e necessidades de cada colaborador.

Há muitas instituições que estão a reinventar os seus programas de formação e de requalificação, bem como a introduzir sistemas de apoio à diversidade, nomeadamente programas de mentoring e de desenvolvimento profissional, comunidades de networking ou ambientes flexíveis (trabalho remoto, horários flexíveis ou trabalho por projetos).

As formações e programas de especialização são ferramentas excelentes para as mulheres poderem adquirir novas competências, não apenas tecnológicas mas de comunicação, que vão ao encontro das exigências da IA (prompting, user experience, etc). Conseguem, assim, aumentar as probabilidades de abraçar novas carreiras e novos desafios.

Há que cultivar o interesse por estes temas de IA, mas também de todas as outras tecnologias emergentes, junto das gerações mais jovens, mulheres e homens. Torna-se imperativo encorajar os mais jovens a adquirir conhecimentos através de formações, mas também do exemplo que mulheres e homens de sucesso estão a ter.

Neste mundo em constante mutação, a única certeza é que esta mudança será cada vez mais rápida. Por isso, a IA é uma oportunidade excelente para todas as gerações se reinventarem e poderem ter acesso a mais oportunidades, contribuindo assim para uma sociedade mais evoluída e equitativa.

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