Como empresário, mas também como cidadão, como imagina o país e o que temos ainda pela frente, nos próximos 20 anos? O que gostaria que acontecesse a Portugal?
CG — Gostaria que fosse um país completamente diferente. Temos aí os lugares-comuns todos, as coisas que estão a acontecer hoje… e é realmente uma desgraça o que acontece com os nossos jovens. Irem para fora não é problema nenhum, se voltarem. O problema é não terem condições cá os que querem ficar e os que querem voltar.
Devemos ter uma sociedade mais justa a todos os níveis porque temos, realmente, uma sociedade muito desequilibrada e, digo sempre isto a propósito das empresas familiares, nós temos uma responsabilidade e uma capacidade imensa de fazer essa mudança. Por isso, criar a fundação é a maneira que temos de pôr em prática aquilo em que acreditamos.
Temos duas vantagens enormes. Por um lado, não temos de apresentar resultados de quatro em quatro anos. Olhamos sempre a médio e a longo prazo e estamos nas nossas terras, com a nossa gente, com as nossas pessoas. Queremos que resulte. Não nos adianta nada ter uma empresa de sucesso no meio de uma sociedade que não funciona, de uma vila ou de uma região que não funciona e é a mesma coisa para o país. O que é que adianta ter algumas empresas de sucesso, alguns fatores de sucesso quando, na verdade, depois a sociedade não funciona e não temos todos um nível de vida bom ou aceitável.
— Espera que haja um reforço da coesão social e territorial?
CG — Sim, claramente. Hoje, estar tudo concentrado não faz sentido nenhum. Muitas vezes, usam-nos como um exemplo, mas há tantos exemplos de empresas fora dos grandes centros que funcionam e tem de ser assim, até porque em Portugal não há interior; com duzentos e poucos quilómetros de largura, não há interior.