Turistas a mais ou a menos?

O setor do turismo pesa mais de 12% do PIB, mas crescem os protestos contra o overtourism.

Portugal tem excesso de turismo? É o tema clássico do copo meio cheio ou meio vazio. Quando os centros históricos de Lisboa ou Porto se enchem de turistas, na primavera ou no verão (tal como acontece em cidades como Veneza ou capitais sempre procuradas), faz-se ouvir o clamor de habitantes e de alguns líderes de opinião. Mas nunca Portugal foi tão bem pontuado e destino de viagem de cidadãos de todo o mundo que querem conhecer a nossa cultura, as paisagens, os monumentos históricos ou a sempre apreciada gastronomia.

O turismo gerou receitas superiores a 22 mil milhões de euros em 2022, ou seja, mais 20% do que no ano recorde de 2019, antes da pandemia. A indústria do turismo acolheu 26,5 milhões de hóspedes, sendo 15,3 milhões estrangeiros (mais 158% do que em 2021).

As estatísticas oficiais comprovam que, em 69,5 milhões de dormidas, mais de 46 milhões foram de estrangeiros e os turistas nacionais contribuíram com quase 23 milhões de dormidas, dando novo fôlego ao turismo interno. A origem de quem nos procura mais (principais mercados emissores) é semelhante à dos anos anteriores à pandemia: Reino Unido (8,9 milhões), Alemanha (5,4), Espanha (5), França (4,4) e EUA (3,4). No caso do mercado norte-americano, a subida em termos homólogos foi de 327%.

Chegam maioritariamente de avião a Lisboa, Faro, Funchal, Porto ou Ponta Delgada, mas o Tejo continua a receber enormes cruzeiros, de onde desembarcam milhares de estrangeiros europeus. O turismo é a alegria de uma economia que depende deste setor em cerca de 12%, o dobro de 2020 (ano do flagelo da covid-19).

Mas o elevado peso do setor no PIB (que já era muito elevado em 2016/17) significa um contributo real para outros setores da economia, para a criação de emprego ou para a urgência da construção de um novo aeroporto de Lisboa? A resposta inequívoca é dada por Bernardo Trindade, presidente da AHP, no debate “Sim ou Não” desta semana. O ex-secretário de Estado do Turismo defende que temos turistas a menos, na comparação com outros destinos europeus e mundiais e acredita que há margem para crescer em qualidade. No mesmo debate, a economista Vera Gouveia Barros, alerta para as externalidades negativas e para a urgência de um maior equilíbrio regional, levando os turistas para fora de Lisboa e Porto.

Também Abel Mateus partilha a sua visão sobre a relevância do setor para o crescimento da economia. E, no Sucesso.pt, damos a conhecer a nova aposta do investidor Ricardo Kendall no turismo. O empresário vendeu a empresa Smart Studios por 200 milhões de euros a um fundo de investimento, num dos maiores negócios imobiliários do ano passado.

luis.ferreira.lopes@newsplex.pt