Os piores do Mundo

Educação financeira não é um nice-to-have; é pão para a boca, literalmente!

Ah, o dinheiro! Dizem que não traz felicidade, mas, em Portugal, a falta dele gera miséria e desigualdade.

Perdoem o clickbait, mas não somos os piores do Mundo; no que diz respeito à Literacia Financeira, somos, simplesmente, os piores da Europa. No país do melhor Ronaldo do mundo, do melhor bacalhau do mundo, das melhores universidades do mundo e do melhor fado do mundo, é frequente perder de perspetiva de que há muito a consertar cá em casa.

Alguns estudos da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu demonstram que Portugal é um país onde se percebe muito pouco de juros compostos, risco financeiro, inflação e de ativos e passivos.

Isto compromete os nossos níveis de poupança, promove a falta de planeamento para a reforma, prejudica a nossa competência para fazer investimentos inteligentes e favorece o endividamento excessivo, sobretudo, num país onde os salários médios estão entre os mais baixos da Europa. Parece que andamos a fazer contas de dividir com os dedos, quando todos já descobriram as calculadoras há muito tempo.

A solução é óbvia, educar… e quanto mais cedo, melhor. Não parece que, no curto prazo, a resposta venha do Ministério da Educação. Há lá, evidentemente, a perceção de que é mais importante ensinar latim ou a colheita do trigo na Inglaterra feudal do século XIV, do que ensinar sobre juros, inflação, ativos, investimentos e, no limite, ajudar as pessoas a perceber como ganhar e gerir dinheiro.

Se o objetivo da Educação é preparar as pessoas para a vida, em 20 anos de estudo e Escola, não há tempo para falar de dinheiro, que tanto ocupa da felicidade de uns e da infelicidade de outros?

O nosso projeto (Magma) tem uma filosofia de atuação invulgar que me orgulha muito: uma parte dos nossos recursos é investida no desenvolvimento e entrega de serviços que procuram o lucro numa lógica de mercado idêntica a qualquer outra empresa.

Trabalhamos com grandes organizações, ajudando-as a definirem as suas estratégias de gestão de talento e os nossos clientes são empresas extraordinárias como a Fidelidade, SIBS, EY, Jerónimo Martins, Super Bock Group, ANA Aeroportos, Hovione, L’Oréal, Inditex, BPI, entre outras.

Adicionalmente, uma parte relevante dos nossos recursos é orientada para a criação de Iniciativas de Educação que, não tendo por base objetivos financeiros, promovem a capacitação de pessoas (sobretudo alunos universitários) através de programas que todos os anos fazem a diferença na vida de dezenas de milhares de pessoas, ajudando-as a criar carreiras melhores.

Um dos projetos que criámos este ano foi a Escola das Finanças. Em parceria com a Cofidis, lançamos um programa piloto chamado Personal Finance MBA que, ao longo de 6 semanas e num formato muito prático, ensina a navegar a complexidade do mundo financeiro, fornecendo ferramentas e estratégias para compreender temas como IRS, Segurança Social, Portal das Finanças, Contratos de trabalho, Crédito, Poupança, Investimentos, etc.
Este ano, ajudamos a formar mais 6.000 alunos universitários e o feedback está a ser positivo (9,7 em 10 nas principais métricas de avaliação).
Estamos agora a trabalhar para em 2024 ensinar 15.000 alunos. Isto altera alguma coisa? Não. Ajuda, mas não muda.

Honestamente penso ser necessário (e possível) formar 100 ou 200.000 pessoas por ano, todos os anos… e isto (que está no âmbito das ambições da Magma), ao longo de uma década, pode realmente mudar Portugal.
Educação financeira não é um nice-to-have; é pão para a boca, literalmente! Há uma necessidade expressa, na qual repousam expectativas urgentes, de alterar a nossa relação com o dinheiro e, provavelmente, isso passa pela aposta no conhecimento.

Não me parece que precisemos de 10 milhões de especialistas em M&A; não precisamos de 10 milhões de especialistas em S&P500; não precisamos de ser os melhores do mundo, mas também não podemos ser os piores da Europa.

O Talent Bootcamp

Uma das nossas mais visíveis e impactantes iniciativas é o Talent Bootcamp, programa de desenvolvimento de competências que, em parceria com diversas universidades, em dois dias aproxima 200 alunos e 150 empresas.
Este programa (com apoio da Fidelidade, Teleperformance, SIBS e Jerónimo Martins), permite aos alunos terem consciência da realidade do mercado de trabalho enquanto exploram técnicas para otimizar a sua performance em entrevistas de trabalho e assessment centres, compreender quais os seus ativos e competências, perceber como criar currículos eficazes e desenvolver relações de longo prazo com os profissionais das empresas.
Adicionalmente, com uma boa dose de realismo, dá-lhes força emocional e permite-lhes entender que com a atitude, coragem e esforço certos, as carreiras que procuram estão ao seu alcance.

Empresário e formador (Magma)