O tema da poupança em Portugal é mais profundo e estrutural do que conjuntural”, alerta José Eduardo Toscano Bonito, diretor da área de poupança na seguradora Fidelidade.
O país tem atualmente uma taxa de poupança na ordem dos 6%, o que equivale a menos de metade da média da zona euro (14%), de acordo com dados da Eurostat, situação que se mantém há décadas.
“É um problema crónico”, afirma o mesmo responsável. Explica que existe uma incapacidade estrutural em reservar uma parte do rendimento disponível e alocá-lo à poupança, uma realidade que tem várias causas, entre as quais os salários baixos – outro problema estrutural –, o imobilismo, a desconfiança dos aforradores portugueses e a alocação de parte do rendimento ao consumo, refere o gestor.
Apesar disso, ao longo da última década (2011-2021), o stock de poupança aumentou cerca de 3%, uma percentagem acima do crescimento nominal do Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo período, com os depósitos bancários e os certificados de aforro a representarem, no final de 2021, mais de 60% da alocação desse stock.
Ainda assim, “é preocupante porque, devido às taxas de juro negativas, o rendimento real destas aplicações não existiu”, lembra o responsável da Fidelidade. O problema é a alocação da poupança: “a capacidade existe, mas a nossa sociedade é muito díspar e tem muitas desigualdades. Contudo, a poupança precisa sempre de ser bem aplicada”.
Literacia precisa-se!
Em Portugal, o perfil tradicional do aforrador é do género masculino, sénior, com reduzida literacia financeira, sensível à perda de capital e, segundo José Eduardo Bonito, “não tem foco na acumulação e na rentabilização do seu património, apenas na segurança”.
As novas gerações tendem a arriscar mais nos seus investimentos, mas, na perspectiva do mesmo responsável, ainda não existe uma real mudança de mentalidades, nem tão pouco um conhecimento aprofundado dos mercados e dos produtos financeiros.
“Não podemos esquecer ainda uma maior longevidade, que fará com que o país tenha uma população cada vez mais envelhecida, aumentando a necessidade de valorizar e reforçar a poupança”, argumenta.
Mudar as mentalidades no que se refere à gestão dos orçamentos familiares, através do conhecimento e da literacia financeira, ajudaria a capacitar a população para uma melhor gestão das suas poupanças e investimentos e contribuiria para debelar crises e carga fiscal de forma mais eficaz e com menor impacto na economia familiar e do país.
“Se existisse mais conhecimento, mais dinamismo e mais responsabilidade individual do aforrador, passaríamos mais incólumes por estas situações”, acredita José Eduardo Bonito.
Para o executivo da seguradora, a literacia financeira deve ser encarada como uma necessidade básica, caso contrário “seremos recorrentemente dependentes do Estado”. Políticas de incentivo fiscal à poupança e ao investimento são fundamentais e, defende, “tem que haver igualmente um trabalho conjunto com as empresas e a sociedade civil”. Da parte do Estado, enfatiza, espera-se a integração destes temas na educação formal, nas escolas, porque “é estrutural, é mentalidade, é cultura, é ação”. Salienta: “temos que mudar culturalmente o mindset do aforrador e do consumidor”.
Disseminação de conhecimento
A literacia financeira deve começar desde cedo nos bancos da escola, mas é igualmente fundamental que este know how seja transversal a toda a população. Como refere José Eduardo Bonito, cabe às empresas dar essas ferramentas aos seus colaboradores, mas também a instituições bancárias ou seguradoras garantir que a sociedade está preparada para pensar em investimentos.
“Trata-se contaminação positiva de toda a sociedade, passando o conhecimento – que será o primeiro passo – para que depois se traga retorno para todos”. E este trabalho deve ser extensivo às empresas e aos empresários, porque todo o país ganha com um tecido empresarial mais informado. Até porque, complementa o diretor da Fidelidade, “uma população com mais literacia, com maiores níveis de poupança e melhores investimentos cria uma economia mais sustentável a longo prazo”.
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